1 de fevereiro de 2008

Mataram o Rei!

-----Corria o dia 01 de Fevereiro de 1908. O Rei D. Carlos regressava de Vila Viçosa onde, no Inverno, costumava reunir os seus amigos mais chegados para um temporada de caça. O comboio em que viajava chegou ao Barreiro já a tarde ia alta, e o Rei apanhou daí um barco até Lisboa, onde o esperavam o seu irmão mais novo, o Infante D. Afonso, e alguns membros do governo, entre eles João Franco.
-----O Vapor D. Luís, que transportava a comitiva, atracou na Estação Fluvial do Terreiro do Paço (Praça do Comércio) por volta das 17 horas. Estava bom tempo: as ruas pouco movimentadas contrariavam a tensão política que nos últimos anos se sentia em Lisboa; a crise nas finanças arrastara o país para a banca rota – os Republicanos conspiravam na obscuridade dos botequins da baixa [o Rei havia assinado um decreto no dia 30 de Janeiro de 1908 condenando ao degredo todos os que praticassem crimes contra o Estado (ler o artigo na sua totalidade), na altura governado pelo ditador João Franco] – e surgia já, na clandestinidade, um movimento antimonárquico que não passava despercebido a D. Carlos.
-----O Rei, a sua mulher e o filho partem da estação numa carruagem aberta, escoltados por alguns batedores de protocolo. Ao entrarem na praça pouco movimentada, um homem dirige-se para o meio da rua: era Manuel Buíça, de longas barbas e olhar gélido que, com um joelho no chão, retira uma carabina que trazia escondida debaixo da capa e, à distância de uma dezena de metros, aperta o gatilho. O estampido ecoou pela praça; na carruagem o Rei D. Carlos tombou sem vida sobre a rainha, atingido pela bala certeira que lhe atravessou o pescoço, matando-o instantaneamente.

5 comentários:

Anónimo disse...

Viva a República.
“o Rei havia assinado um decreto no dia 30 de Janeiro de 1908 condenando ao degredo todos os que praticassem crimes contra o Estado”. Isto faz-me lembrar que se fosse nos dias de hoje, era o Estado que seria deportado, por crimes contra a População.

Beijo

Luís Mouta disse...

Anónimo,

Viva a República!

No entanto não podemos esquecer-nos de que foi essa mesma República que conspirou contra a figura do Rei; e, em nome da "liberdade", foi morto um homem - um homicídio frio e calculado. Ora, a liberdade não se constrói assim!

Anónimo disse...

Poderia concordar contigo, mas nem todas as revoluções se fazem sem sangue com foi a do 25 de Abril de 1974, neste caso, a morte de D. Carlos foi necessária para que os republicanos não fossem deportados, para mim, os meios justificaram os fins. Não quero com isso dizer que concordo com as mortes a sangue frio.
Que alternativa tinham os Republicanos na altura senão a morte do Rei?!... A liberdade é sempre vista para os dois lados, neste caso, a morte do rei foi a alternativa para essa mesma Liberdade.

Beijo

Alexandra disse...

Conheço muito bem esta história. Desde que a conheci em criança, nunca mais a esqueci.

Não me interessa se viva ou não a República,nem tão pouco a monarquia, todos os sistemas são falíveis!

Simplesmente um ser humano cheio de valor foi morto e daí... pouco ou nada resultou... (leia-se, Rio das Flores de Miguel Sousa Tavares).

Em suma, ficamos mais pobres em termos culturais enão só...

Anónimo disse...

Há que distinguir o significado de "Ditadura" em monarquia em 1908, em que os poderes legislativo e executivo foram acumulados pelo primeiro ministro, João Franco,até às eleições previstas para Maio do mesmo ano, mantendo-se a liberdade de expressão e a ausência de censura prévia à média da altura, ou seja a imprensa, do significado de "Ditadura" proclamado em 1926 e depois continuado ad aeternum, pelo regime republicano que vigorou até 1974.
Nunca nenhum chefe de estado em Portugal foi tão achincalhado pela imprensa como o Rei D. Carlos e nem assim a censura foi instaurada.
O Partido Republicano, que não tinha nada de clandestino, foi conivente com o regicídio porque sabia que os 7% de votos dificilmente se alterariam nas eleições que se aproximavam.
E foram os herdeiros políticos desse mesmo Partido Republicano que vetaram o voto de pesar proposto por monárquicos e republicanos na AR em 2008.
Cumprimentos,

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